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Dor de cabeça para o governo e as famílias, o preço de itens como carne, café, laranja, óleo de soja e azeite explodiu no último ano. Veja o que vem por aí para esse produtos. Previsão de recorde na safra de grãos pode ajudar a baixar o preço dos alimentos?Com o governo Lula e os consumidores de olho nos preços dos alimentos neste início de ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou nesta terça-feira (11/2) que a inflação fechou janeiro em alta de 0,16%.Em 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida oficial da inflação no país, acumula alta de 4,56%, desacelerando em relação aos 4,83% registrados em dezembro.Foi a menor variação do IPCA para um mês de janeiro desde a implantação do Plano Real, em 1994, devido principalmente a uma queda de 14,21% no preço da energia elétrica residencial, por conta do repasse do "bônus de Itaipu" às contas de luz.O bônus tem origem num saldo positivo de R$ 1,3 bilhão na conta de comercialização de energia da usina hidrelétrica de Itaipu, distribuído como crédito na conta de luz dos brasileiros, seguindo uma regulamentação do setor.Se a conta de luz ajudou, esse não foi o caso dos transportes (com alta de 1,3%, puxada pelos reajustes das passagens aéreas e do transporte urbano em diversas capitais) e de alimentos e bebidas, que subiram 0,96% em janeiro, com uma alta de 1,07% na alimentação em domicílio, puxada pela cenoura (36,14%), tomate (20,27%), e café moído (8,56%). Mas o que esperar para o preço de alimentos como carne, café, laranja, óleo de soja e azeite, que foram os "vilões da inflação" no período recente?Conversamos com André Braz, coordenador de Índices de Preços na Fundação Getulio Vargas (FGV), para saber o que vem por aí.CarnesAs carnes subiram 0,36% em janeiro e em 12 meses acumulam alta de 21,17%, bem acima da inflação geral (4,56%).Segundo Braz, a carne está em alta desde o ano passado por uma combinação de dois fatores.O primeiro fator foi a desvalorização da nossa moeda, que contribuiu para o Brasil bater recorde de exportação de carne no ano passado. Isso é bom para a balança comercial do país, mas deixa menos produto disponível no mercado interno.O segundo fator é o chamado ciclo pecuário.Por conta da queda do preço do boi em 2023, os produtores aumentaram o abate de fêmeas. Isso gera caixa para o produtor e aumenta temporariamente a oferta de carne, mas reduz o rebanho no médio prazo, já que são as fêmeas (chamadas de matrizes) que produzem os bezerros. Essa redução de oferta empurra os preços da carne para cima, que foi o que aconteceu no ano passado.E a alta de preços deve se manter em 2025, já que leva tempo para recompor os rebanhos.CaféO preço do café explodiu no ano passado, e o café moído acumula alta de 50,35% em 12 meses até janeiro."O café tem um ciclo bianual, então tem ano que [a oferta] é um pouco mais estável, e 2025 é o ano de oferta mais fraca para ele", diz o economista da FGV.Em 2024, o preço do café teve forte alta em meio a uma seca histórica que afetou os cafezais entre agosto e setembro, seguida por fortes chuvas em outubro."O efeito climático do ano passado pegou o café quando a gente esperava que a safra fosse boa, e aí a florada foi comprometida pela seca, então isso diminuiu a oferta. E esse ano é um ano fraco, então o café deve continuar como um dos itens que seguirão acumulando um maior aumento de preço", prevê Braz.A verdade sobre o 'café fake': por dentro do 'parece, mas não é' que se espalha pelos supermercadosLaranjaO preço da laranja foi recorde em 2024, com a laranja lima acumulando alta de 59,56% em 12 meses até janeiro e a laranja pera subindo 34,52% no mesmo período.Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a alta nos preços foi causada pelo clima seco e temperaturas elevadas nas regiões produtoras, que afetaram a produtividade das lavouras.Na safra 2024/25, produtores do Estado de São Paulo e do Triângulo Mineiro devem colher 223,14 milhões de caixas de 40,8 kg de laranja, conforme o relatório de dezembro do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), 27,4% menos do que na safra anterior (2023/24)."A laranja vai depender mais da safra de outros países, [para definir] como é que o preço internacional dela vai se comportar, e o Brasil pode ter um grande protagonismo na exportação de laranja, porque também é um grande produtor mundial e pode se valer disso", diz Braz."Mas o preço vai continuar pressionado, e se a gente exportar muito, isso vai virar um problema para a oferta doméstica", completa o especialista em inflação.Óleo de sojaO óleo de soja acumula alta de 24,55% em 12 meses, mas aqui as perspectivas são mais positivas, graças à projeção de safra recorde para o grão este ano.Em janeiro, o óleo já registrou queda de 0,87%, segundo o IPCA."O óleo é o item que tem mais chances de desacelerar, porque o preço da soja vem recuando", diz o economista da FGV."Então talvez o óleo acumule alguma queda de preço ao longo desse ano — ele não vai recompor o preço de dois anos atrás, mas pode ser que deixe de subir ao longo de 2025."AzeiteUm item de consumo das famílias brasileiras de renda mais alta, o azeite acumula um aumento de 17,24% em 12 meses, segundo o IBGE, com os preços internacionais tendo sido impactados nos últimos anos por secas históricas nos principais países produtores.Neste início de ano, os preços no mercado externo já estão em queda, devido a uma safra melhor na Espanha, país responsável por mais de 40% da produção global de azeite.Mas, segundo Braz, é improvável que os preços voltem ao patamar pré-crise por aqui, porque o Brasil importa 99% do azeite consumido internamente, e o câmbio desvalorizado não deve ajudar."O azeite sofreu com um problema de clima, e vai depender das safras na Espanha, Portugal e Grécia, que são os grandes produtores mundiais de azeite", diz Braz."Com o agravante da nossa desvalorização cambial, acredito que tem pouco espaço para vermos o azeite ficar muito mais barato."A verdade sobre o 'café fake': por dentro do 'parece, mas não é' que se espalha pelos supermercadosMedidas para baratear comida demoram e não beneficiariam Lula neste mandato, diz economistaPor que 'inflação da picanha' preocupa cada vez mais brasileiros (e Lula)