Foi condenado a mais de 34 anos de prisão o homem que sequestrou e manteve a sobrinha em cárcere privado por quase 10 anos. A vítima é de Rio Bananal, no Norte do Espírito Santo, foi mantida em cativeiro no Sul da Bahia e foi resgatada setembro.
O réu de 43 anos, que já estava preso preventivamente, vai cumprir a pena inicialmente em regime fechado, sem poder recorrer da sentença em liberdade. Ele segue no Centro de Detenção Provisória da Serra, na Grande Vitória.
O tio foi condenado pelos crimes de estupro, sequestro, cárcere privado, falsificação de documento público e posse irregular de arma de fogo, todos agravados por serem praticados de forma continuada.
Além dos 34 anos e 9 meses de prisão, a pena inclui um ano de detenção, além de 165 dias-multa e o pagamento de R$ 150 mil, como reparação do dano sofrido pela vítima. O caso tramita em segredo de justiça.
O g1 procurou a defesa do tio, mas não teve nenhum retorno até a última atualização desta reportagem.
Na época do crime, a jovem tinha 15 anos. Ela contou que vivia trancada e era impedida de estudar e receber visitas. Além disso, não podia sair desacompanhada e era agredida e violentada com frequência.
Após o resgate da vítima, o homem ficou foragido por mais de um mês e depois se entregou em outubro na Delegacia de Linhares. Ele negou as acusações e narrou para a polícia de que a sobrinha não estava em cárcere privado.
Desde que voltou para casa, a jovem está sendo acompanhada pela rede pública de saúde. Ela passou por uma série de exames, fez consultas com psicólogo e psiquiatra. Agora, ela deseja voltar a estudar.
"Até hoje eu sonho em terminar os estudos e eu vou conseguir. Ele não deixava eu ir, era um lugar onde eu poderia conseguir ajuda, né?", contou.
Relembre o caso
A jovem foi sequestrada aos 15 anos em Rio Bananal, no norte do Espírito Santo, e levada para Teixeira de Freitas, no extremo sul da Bahia. Na época, ela deixou uma carta para a família.
Ao chegar a Bahia, passou a ser deixada trancada em casa. O suspeito dizia que se ela tentasse fugir, mataria ela e a família. Desde então, só saía de casa acompanhada do suspeito e era vigiada todo o tempo e não permitia que ela fosse à escola e era constantemente agredida fisicamente.
O suspeito monitorava conversas ocasionais dela com outras pessoas. Tio e sobrinha viajavam apenas de carro, nunca de ônibus.
A ação da polícia que encontrou a jovem recebeu o nome de "Operação Resgate" e foi coordenada pela Superintendência de Polícia Norte e da 16ª Delegacia Regional de Linhares, com o apoio da Delegacia de Polícia (DP) de Rio Bananal e da Promotoria de Justiça de Rio Bananal.
A vítima relatou que, durante esses anos, sofreu abusos sexuais, era mantida trancada e sob ameaças de morte, inclusive contra seus familiares, caso tentasse escapar. Também era forçada a trabalhar na roça.
"Ele a vigiava o tempo todo e nunca permitiu que ela frequentasse a escola. A vida dela era completamente controlada por ele. A vítima passou por vários locais, incluindo a capital Vitória, onde viveu por três anos, antes de ser levada para Jucuruçu. Durante todo o tempo, ela foi obrigada a trabalhar na roça e recebia apenas R$ 100,00 por mês", afirmou o delegado Fabrício Lucindo.