É #FAKE que novo coronavírus não resiste altas temperaturas

Foto de Medeirosneto.com Por Medeirosneto.com
07/10/2020 às 16:31:09

Nos últimos dias, uma história que está circulando nas redes sociais aponta que as temperaturas recordes no Brasil poderiam ajudar no combate a Covid-19. De acordo com as publicações, o novo coronavírus (SARS-CoV-2) não suportaria uma temperatura maior do que 36ºC. Ainda segundo as publicações, o motivo de tanto calor seria uma intervenção divina que estaria “agindo para exterminar o vírus”. Confira:

“Não reclame, Deus sabe o que faz, e qual o nosso limite…ESTÁ CALOR AÍ NA SUA CIDADE?? ENTÃO LEIA ISSO : O vírus do corona suporta até 36 graus , então vamos refletir : Nunca houve uma temperatura tão alta , batendo o record todos os dias 41 graus , geralmente era por volta de 36 , principalmente no Mato Grosso , estado de São Paulo todos os dias 41 graus , e nós não estamos analisando isso : “É DEUS AGINDO PARA EXTERMINAR O VÍRUS , FAZENDO AQUILO QUE O HOMEM NÃO É CAPAZ DE FAZER.” Deus está agindo para exterminar esse vírus , muitos estão só reclamando do calor , vamos torcer para esse calor permanecer pelo menos por mais uns 30 dias para exterminar de vez esse vírus . Isso é ação de DEUS , nunca houve uma temperatura tão alta , principalmente no estado do Sul . Mato Grosso todos os dias um calor issuportável , parece que tem fogo no ar . Vamos entender , vamos ter fé!”.

Onda de calor no Brasil está combatendo a Covid-19 porque o coronavírus não suporta altas temperaturas?

A informação está sendo amplamente compartilhada nas redes sociais, em especial, no WhatsApp e no Facebook. Já são centenas de compartilhamento sobre o assunto. Porém, a história não passa de balela!

Ao ler a mensagem, é possível perceber que ela apresenta algumas características de fake news na internet, como o caráter vago, bastante alarmista, os erros de português e a falta de fontes confiáveis.

Além disso, ao longo da pandemia, informações falsas sobre a Covid-19 e o novo coronavírus não faltaram. O Boatos.org, inclusive, fez um especial sobre o assunto, reunindo todas as histórias falsas sobre a Covid-19 e o novo coronavírus.

Uma dessas histórias, em especial, nos chamou a atenção. No início da pandemia, lá em fevereiro de 2020, uma informação dava conta que o novo coronavírus não sobreviveria a temperaturas acima de 26ºC, por isso, o texto recomendava o consumo de água ou chá quente. Os meses se passaram e, até o momento, não existe comprovação científica de que o SARS-CoV-2 não sobreviva à temperaturas “quentes” de 36ºC.

 

Se isso não bastasse, nem os cientistas estão certos sobre a influência do clima na propagação do vírus. De acordo com estudos recentes, a incidência do novo coronavírus tem mais a ver com a falta de medidas de prevenção do que com o clima em si. Alguns pesquisadores sugerem que o SARS-CoV-2 tem uma preferência por climas frios e secos. Entretanto, os mesmos estudiosos verificaram que o vírus conseguiu se espalhar de forma contundente em países quentes e úmidos (por exemplo, no Brasil e no restante da América Latina).

Um estudo recente publicado na revista Science, uma das mais conceituadas no mundo da Ciência, indica que a falta de imunidade ao vírus (ou seja, pessoas não vacinadas ou que não contraíram a doença) será um dos principais fatores para a rápida propagação do vírus ao redor do mundo nos próximos meses (e não o clima). De acordo com os especialistas em transmissão de doenças infecciosas e modelagem climática, o clima não pode ser o único fator a ser considerado. De acordo com eles, o distanciamento social melhorou (e muito) os cenários estudados por eles. Além disso, os pesquisadores são claros: a diminuição da propagação do vírus não vai ocorrer tão cedo. Segundo o estudo, eles não sabem se o SARS-CoV-2 vai se comportar como os outros vírus que possuem comportamento sazonal.

E basta pegar alguns exemplos na história para perceber que, durante uma pandemia, um vírus não costuma se comportar da mesma forma que age em um surto sazonal. A gripe espanhola, por exemplo, atingiu seu auge em pleno verão (quando os vírus da gripe comum se disseminam e infectam muito mais no inverno). A história de hoje, na verdade, surgiu de interpretações equivocadas de pesquisas científicas. Em abril de 2020, no início da pandemia, uma pesquisa realizada por cientistas vinculados ao governo dos EUA identificaram que o SARS-CoV-2 (o novo coronavírus) perderia sua força quando exposto aos raios UV e em um ambiente quente e úmido. Entretanto, a pesquisa não falava sobre o vírus dentro do organismo humano. Na realidade, o estudo mostrava situações em superfícies externas (como a maçaneta de casa ou do carro). Na época, os cientistas acreditavam que o número de casos por Covid-19 iriam diminuir por conta da diminuição da transmissão indireta do vírus. Entretanto, não foi o que ocorreu, justamente porque a grande maioria dos casos segue acontecendo por transmissão direta (falar sem máscara perto de alguém, por exemplo).

De fato, outras pesquisas indicam que outros tipos de coronavírus (e até mesmo o SARS-CoV-2) conseguem sobreviver melhor em uma faixa de temperatura e umidade. Um estudo da Universidade de Maryland (EUA), por exemplo, mostrou que o SARS-CoV-2 se espalhou mais entre cidades e regiões com temperatura média de 5ºC a 11ºC com umidade relativa do ar baixa. Já pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard sugerem que o novo coronavírus será muito menos sensível ao clima do que as pessoas esperam. Dessa forma, os estudiosos têm observado que a mobilidade das pessoas, associada a fatores climáticos, será um fator decisivo na disseminação do vírus. No verão europeu, por exemplo, as pessoas costumam sair mais de casa, se reunirem etc. De acordo com os pesquisadores, esse tipo de comportamento (a falta do distanciamento social), aliado ao não uso da máscara, pode interferir muito mais no número de casos que a temperatura. Isto é, o comportamento de risco acabaria “anulando” (vamos dizer assim) qualquer benefício que as condições climáticas poderiam vir a trazer.

Por fim, no Brasil, a curva no número de casos e mortes começou a cair muito antes do calor chegar. Já no final de julho de 2020 foi possível observar uma queda em relação aos meses anteriores. Vale ressaltar que, naquele período, o Brasil enfrentou fortes ondas de frio. Isso sem falar nos altos números de casos em regiões bastante quentes, como o norte do país. Já na Europa, a segunda onda começou a apontar justamente… no verão! Enquanto isso, nos Estados Unidos, até o momento, o pior cenário foi observado em pleno verão. Esses exemplos são algumas das evidências que os cientistas têm apontado: em uma situação de pandemia, não se pode saber, exatamente, como um vírus vai comportar. Dessa forma, não se pode julgar o SARS-CoV-2 como se fosse um vírus já conhecido e com comportamento sazonal (especialmente, porque ainda não existe uma imunização contra o novo coronavírus).

Em resumo: a história que diz que as altas temperaturas no Brasil poderiam ajudar no combate a Covid-19, porque o novo coronavírus não sobrevive em temperaturas maiores do que 36ºC, é falsa! Se o vírus realmente não sobrevivesse à uma temperatura de 38ºC ou 40ºC, então, ninguém morreria de Covid, uma vez que o corpo humano enfrenta essas temperaturas durante um quadro de febre. Pesquisadores têm demonstrado (e defendido) que o comportamento em relação ao clima será um fator muito mais decisivo do que o próprio clima. Além disso, os estudiosos também destacam que o comportamento de um vírus durante uma pandemia é completamente diferente de outro em um surto sazonal. A própria pandemia da gripe espanhola mostra isso. Ela atingiu seu auge em pleno verão. Se isso não bastasse, os próprios pesquisadores foram claros: o verão, por si só, não será suficiente para controlar o novo coronavírus. Por isso, recomendam o distanciamento social e o uso da máscara.

Boatos.org

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