Jornalista Genilson Coutinho foi uma das pessoas que entraram na Igreja de São Francisco para ajudar no salvamento das vítimas. Acidente provocou a morte de uma turista de 26 anos. Jornalista Genilson Coutinho testemunha desabamento de igreja em Salvador
Reprodução/TV Bahia
O cenário encontrado após o desabamento de parte do teto da igreja de São Francisco de Assis, no Centro Histórico de Salvador, foi "lamentável". Assim definiu o jornalista Genilson Coutinho, uma das testemunhas do acidente que ocorreu na tarde desta quarta-feira (5). O desabamento provocou a morte de uma turista de 26 anos e deixou outras seis pessoas feridas.
Ele estava na rua quando a estrutura de madeira desabou, mas conta que não hesitou em entrar na "igreja de ouro", como a basílica é mais conhecida, para ajudar a socorrer as vítimas.
"A gente não pensou duas vezes e entrou na igreja. A gente não conseguia ver nada, só ouvia o grito de uma pessoa. (...) A cena era lamentável", relatou à TV Bahia.
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Ele afirma que deixou o local quando a polícia chegou para atuar no resgate. Para Genilson, mais do que assustadas com o estrondo, as pessoas que tentaram ajudar correram riscos diante do estado da estrutura. "Era muita fumaça e a gente percebia muita madeira no chão", acrescentou.
Outra testemunha foi a guia de turismo Meirelúcia Oliveira, que acompanhava a jovem que morreu no acidente. A moça estava na companhia do namorado e de um casal de amigos.
Guia detalha momentos de tensão durante queda do teto de igreja de ouro em Salvador
Ao g1, Meirelúcia disse que falava justamente sobre a igreja quando parte do teto desabou.
"Quando a gente estava na porta, a igreja abriu um buracão. [A madeira] Veio descendo, arriando, eu gritei por misericórdia, saí por ali e a família arrombou a porta. Nós conseguimos sair, sobreviver", detalhou.
Ela se define como "sobrevivente de uma tragédia". De acordo com a guia, a porta a que ela se refere não era a entrada principal da igreja.
Morte de turista após desabamento
Uma turista de 26 anos, identificada como Giulia Panchoni Righetto, morreu e outras seis pessoas ficaram feridas depois que parte do teto da "igreja de ouro", desabou. O número foi confirmado pelo Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBM-BA).
Parte de teto de famosa 'igreja de ouro' do Centro Histórico de Salvador desaba
O acidente ocorreu por volta das 14h30, no templo da Ordem Primeira de São Francisco. Imagens feitas por testemunhas mostram os estragos pouco depois do desabamento. O espaço onde os fiéis ficavam durante as missas foi coberto por destroços, principalmente da madeira que cobria o telhado.
"Todo o espaço central da igreja cedeu. Possivelmente, alguma parte dessa cobertura se rompeu e, com o peso desse espaço superior do teto, a madeira veio abaixo, com o sobrepeso", afirmou Sósthenes Macedo, coordenador da Defesa Civil de Salvador.
Teto da Igreja de São Francisco desaba em Salvador.
Defesa Civil de Salvador
Além da Defesa Civil, equipes da Polícia também estão no local e policiais militares isolaram a área. Bombeiros seguem no local e até as 16h10, o corpo ainda não havia sido retirado.
"Já fizemos a varredura das outras áreas para verificar se tem mais alguma vítima, e não foi encontrada nenhuma", disse o coronel Adson Marchesine, comandante do Corpo de Bombeiros.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) presta socorro aos feridos no Centro Histórico. Todos tiveram ferimentos leves.
Problemas na igreja
Parte de teto de igreja de ouro desaba em Salvador
Reprodução
Considerada uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo, a igreja já enfrentava problemas estruturais há anos.
Com interior revestido em ouro, o templo fundado no início do século 18 foi tombado como patrimônio material do Brasil, porém, o reconhecimento do governo federal, que deveria garantir a proteção ao espaço, não impediu a construção de atingir uma situação degradante.
Durante uma visita realizada em 2023, o g1 observou que o local estava com pinturas e teto desgastados, pilastras sem reboco e piso desnivelado em vários pontos – o que dificultava a locomoção de pessoas com mobilidade reduzida.
No mesmo ano, um dos pátios da Igreja de São Francisco foi parcialmente fechado porque já havia risco de queda do pináculo direito. A estrutura, uma cúpula de metal que pesa cerca de uma tonelada e meia, chegou a ser removido, segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Igreja de São Francisco, no Centro Histórico de Salvador
Itana Alencar/g1
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Igreja de São Francisco é uma das principais do Centro Histórico de Salvador
Durante esse processo, as visitas ao templo, que é um dos mais procurados por quem passeia pelo Centro Histórico da capital baiana, seguiram mantidas.
Arquivo: Teto de igreja histórica de Salvador está desgastado
Itana Alencar/g1
Em maio de 2023, o governo federal fez a restauração dos painéis lusitanos de todo o prédio, porém, as melhorias não se estenderam a outras partes do templo, que careciam de manutenção.
Para fazer a restauração da Igreja e Convento de São Francisco, era preciso primeiro que o projeto da obra fosse avaliado e aprovado pela comissão técnica do Iphan, que avalia o nível de preservação do bem e autoriza a construção.
Azulejos portugueses são presentes na Igreja e do Convento de São Francisco, em Salvador
Fábio Marconi/Divulgação PMS
Isso porque todo patrimônio tombado só pode ser reformado se as características que justificaram o tombamento, a exemplo da fachada e do conjunto arquitetônico, se mantiverem as mesmas. No caso da igreja franciscana, os desafios são grandes para assegurar as características tradicionais do barroco.
Preservação da arquitetura barroca e etapas da reforma
Turistas na Igreja de São Francisco de Assis, no Centro Histórico de Salvador
Fábio Marconi/Divulgação PMS
Igreja histórica da Bahia, que é patrimônio tombado pelo Iphan, está com estrutura precária
Itana Alencar/g1
História e riqueza incalculável
Altar da Igreja de São Francisco, em Salvador
Fábio Marconi/Divulgação PMS
As estruturas da Igreja e Convento de São Francisco começaram a ser construídas em 1686. A obra só foi concluída com doação de moradores em 1723, mesmo tendo sido aberta ao público dez anos antes, em 1713.
Quem vê a igreja de fora, não imagina o luxo na parte interior. As superfícies internas - paredes, colunas, teto, capelas - são revestidas de intrincados entalhes cobertos de ouro, com florões, arcos, e inúmeras figuras de anjos e pássaros, símbolos do barroco brasileiro.
Ricamente decorado, o templo tem imagens de mestres santeiros baianos e lusitanos, verdadeiras obras-primas da arte sacra, duas pias de pedra doadas por Dom João V, quando era rei de Portugal, bem como balaustradas e outras peças esculpidas em jacarandá, um tipo de madeira nobre.
Igreja de São Francisco de Assis, em Salvador, é símbolo do barroco brasileiro
Fábio Marconi/Divulgação PMS
Nos púlpitos e tetos, há várias pinturas, muitas delas produzidas em 1737 pelo pintor português Bartolomeu Antunes, conhecido como o mais importante mestre ladrilhador do país colonizador.
Sobre o parapeito do coro, existe um antiquíssimo oratório com um crucifixo e dez pequenos nichos com relíquias, entre elas o crânio de um mártir a quem se atribuiu o nome de São Fidélis, doado pelo papa Inocêncio XII.
Igreja de São Francisco de Assis, em Salvador
Fábio Marconi/Divulgação PMS
Além da suntuosa capela-mor, dedicada a São Francisco de Assis, o espaço possui oito capelas secundárias. O cadeiral entalhado do coro, a estante para o missal e as grades entre as capelas secundárias são obras do frei Luís de Jesus, conhecido como "Irmão Torneiro". Estes elementos são do século 17 e foram reaproveitados da primeira igreja edificada no local, portanto, são os mais antigos da coleção.
A sacristia também possui um grande arcaz em madeira entalhada feito pelo "Irmão Torneiro", com pinturas sobre pequenas placas de cobre encaixadas em nichos, mostrando cenas da vida de São Francisco. Sobre o móvel, junto ao teto, está outra série de pinturas de Bartolomeu Antunes, com a mesma temática.
Teto de igreja histórica soteropolitana está danificado
Itana Alencar/g1
Igreja histórica da Bahia, que é patrimônio tombado pelo Iphan, está com piso desnivelado
Itana Alencar/g1
Igreja histórica da Bahia, que é patrimônio tombado pelo Iphan, está com estrutura precária
Itana Alencar/g1
Igreja histórica da Bahia, que é patrimônio tombado pelo Iphan, está com estrutura precária
Itana Alencar/g1
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Fonte: G1 - Bahia 
Por Medeirosneto.com
