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Influencers mirins do agro apresentam técnicas agrícolas e conquistam a internet com carisma e bom humor. Crianças ganham milhares de seguidores nas redes sociais mostrando a vida no campoJá imaginou aprender a fazer uma "cesariana" em um ovo com uma menina 6 anos? E descobrir como é o plantio de milho com um menino da mesma idade? Não? Pois existem crianças que fazem isso na internet e têm milhares de seguidores.Um desses influenciadores mirins do agro é José Marcos Scalabrin, de 5 anos, de Nobres (MT). No perfil @vidadejosemarcos, ele mostra a lavoura dos pais e fala com tanta propriedade que parece um verdadeiro agrônomo – só que com uma dose de fofura.Com 2,7 milhões de seguidores no Instagram e 1,2 milhão no TikTok, ele já sabe o que quer: ser agrônomo. Mas ele não está sozinho nessa paixão pelo agro. Sofhya Emanuela de Moura, do perfil @sofhyavaqueira, tem 6 anos e não abre mão da vida no campo: "Se me tirar da roça, não sou essa Sofhya, não", disse.A menina, de Carnaúba (RN), tem autismo e sua mãe, Vanessa Moura, usa o Instagram para ajudar no desenvolvimento social da filha. Além de fazer parte do tratamento, a rotina na roça é cheia de diversão, principalmente quando tem animais envolvidos. Em um dos vídeos, Sofhya aparece ordenhando uma vaca para pegar o leite do café da manhã e
leva uma rabada bem no rosto.Os irmãos Mizael, de 6 anos, e o Benício Rodrigues, de 3 anos, dividem o perfil @paiefilhosdoagro. Eles também mostram o lado bem-humorado da vida rural e se divertem encenando situações do dia a dia no campo, demonstrando como gostam da lavoura. "Galerinha, se algum dia eu fui triste morando na roça, eu nem lembro mais", fala Mizael em um vídeo.Para os pais dos influenciadores mirins de Luisburgo (MG), engajar os filhos nos vídeos é também uma forma leve de passar os conhecimentos adquirido por gerações. Saiba mais sobre a história deles abaixo.Paixão pelos animais O que começou como um jeito de ajudar Sofhya a se desenvolver virou um sucesso nas redes sociais. Durante a pandemia, as terapias da menina, foram paralisadas e os pais precisaram ser criativos para que seu desenvolvimento também não fosse pausado. Os animais e o trabalho na roça serviram de ferramentas, e a mãe dela decidiu gravar tudo e publicar no Instagram.O resultado: hoje, ela tem quase 690 mil seguidores e se comunica melhor."Desde os 4 anos, ela começou a tirar o tirar leite. Então, ali ela não está só tirando leite, ela também está trabalhando na coordenação motora. A gente tem cavalo, ela também faz equoterapia", conta a produtora rural.Antes dos vídeos, Vanessa lembra que Sofhya não conversava e sabia apenas três palavras: "mamãe", "titia" e "não"."Quando a gente começou no Instagram, as pessoas diziam: "Sofhya, você é tão bonita, mas você é muito séria, você não dá um sorriso", diz Vanessa. "Quando minha mãe começou a gravar meus vídeos, ela só via um sorriso meu quando gravava com os animais. Se não, eu continuava séria. Mas, hoje, eu já evoluí muito", comenta Sofhya.Sofhya grava vídeo enquanto ordenha leite da vaca.Arquivo pessoalVanessa conta que a mudança foi tamanha, que a fonoaudióloga se surpreendeu quando os atendimentos retornaram."Sofhya tinha a socialização muito prejudicada. Hoje, ela poder abraçar, beijar, se comunicar com outras pessoas, ficar em uma sala de aula, ter terapias em grupo, isso tudo é uma evolução. Para mim, é a certeza de que tudo está valendo a pena", diz a mãe da influenciadora.Vanessa é quem planeja os vídeos, mas Sofhya não deixa de compartilhar as suas ideias com a mãe. Os temas giram em torno do dia a dia da família, e a influenciadora mirim passa os conhecimentos como se fosse especialista: ela faz "ultrassom" de ovos, mostra como é seu almoço, como colocar chocalho em cabra, e vários outros temas. Os vídeos favoritos de Sofhya são os em que ela pode interagir com os animais, afinal, uma das profissões que ela sonha em ser é veterinária — empatada com ser professora."Sofhya realmente ama a roça, ama a vida que a gente vive, os animais são tudo para ela", comenta Vanessa.E opção de animais não falta: a família tem vaca, cabra, galinha. Há ainda o plantio de alimentos para subsistência.Mas Sofhya também sofre com os haters e pessoas que não entendem o autismo. Muitas pessoas duvidam do diagnóstico, por causa da desenvoltura da influenciadora frente às câmeras.Contudo, Vanessa lembra que foram anos consultando diferentes médicos até fechar o diagnóstico e que o tratamento é contínuo. Além disso, ela frisa que não faz posts das crises da filha e quer "que as pessoas vejam ela bem"."Ela vai conseguir realizar todos os sonhos dela. Enquanto vida eu tiver, eu, o pai dela e a família vamos lutar para que ela evolua mais e mais a cada dia. Ainda vão ouvir muito falar na Sofhya vaqueira", diz a produtora rural.Leia também:Gente do campo: empresária mirim funda loja de chocolate aos 8 anosPequeno agrônomoJosé Marcos Scalabrin viralizou nas redes sociais com apenas 8 meses de idade, em um vídeo no TikTok em que sua mãe mostrava o seu look, no estilo bem agroboy. A música usada era bastante reproduzida na plataforma em conteúdo de troca de roupas, na época: "Hoje Ela Paga", do Bruno e Barreto.A fama repentina assustou um pouco a mãe do influenciador mirim, Giane Cardozo, de 31 anos. Ela decidiu conversar com a irmã, que é 10 anos mais nova, que a tranquilizou, mostrando outros perfis de crianças que viralizaram na internet.O primeiro pedido dos novos seguidores foi acompanhar a rotina da família. Mas a produtora rural estabeleceu limites: só mostra o filho na roça."Tem momentos que é legal compartilhar, mas não é um reality show, né? É vida real e envolvendo ainda a imagem de uma criança", afirma. A maior parte do conteúdo é o José Marcos dando verdadeiras aulas de agronomia. A família planta soja, gergelim, milho e está iniciando uma lavoura de sorgo.E o que ele mais gosta de fazer na roça? Andar nos tratores e brincar. "Eu vou fazer uma coleção de trator", disse com um de brinquedo na mão.José MarcosArquivo pessoalO perfil do José é 100% monitorado pelos pais, mas os vídeos são feitos em conjunto e ele sugere o que acha legal produzir, além do conteúdo encomendado por patrocinadores. Os materiais pagos tiveram início ainda em 2023. Tudo o que é lucrado com o perfil fica em uma conta separada para o futuro de José Marcos.Para Giane, os vídeos fazem parte do processo de aprendizado do menino e ele soa como um verdadeiro especialista. O influencer revela o seu segredo para falar como gente grande: é tudo com muito treino. "Eu erro algumas vezes, mas, depois que eu acerto uma, eu decorei", diz.E as explicações técnicas sobre como cuidar da lavoura são, realmente, um treinamento: José Marcos quer ser agrônomo quando crescer."Eu e o pai amamos a roça", comenta.De pai para filhoQual a melhor forma de distrair crianças hiperativas? Para o casal Robson José de Souza e Gecilaine Rodrigues, de Luisburgo (MG), é levar elas para a roça e fazer vídeos.Não que o casal de agricultores tivesse muita opção. Aos 2 anos de idade, Mizael já fugia de casa e ia para a lavoura, enlouquecendo os pais em sua busca. Agora aos 6 anos, ele, seu irmão Benício, de 3 anos, e o pai protagonizam os vídeos do perfil, que tem 109 mil seguidores no Instagram e mais de 9 mil seguidores no TikTok. A mãe não fica de fora: é a cinegrafista do time.Robson José de Souza segura o filho Benício e a esposa, Gecilaine Rodrigues, segura Mizael.Arquivo pessoalO primeiro vídeo foi publicado em março do ano passado e o conteúdo, que era no improviso, hoje, já conta com patrocinadores e é roteirizado.E Mizael faz coisa de gente grande: planta, colhe e aduba. Mas o pai está sempre por perto, ainda que não apareça no vídeo.O que Mizael mais ama na lavoura é colher café. Ele até tem uma sociedade com o avô, na qual é dono de 40% de um cafezal.E não para no café, eles também plantam milho e feijão.Assim como no caso de José Marcos, o casal acredita que fazer os vídeos explicando a produção agrícola é um caminho para passar o conhecimento para as crianças."O nosso ponto de vista é ensinar para o Mizael e o Benício de onde vem nossa fonte de renda. Que é um dinheiro suado, que tem que ser valorizado, porque trabalhar em roça não é fácil", diz a mãe das crianças.Com as parcerias, a família já lucra com o perfil. Gecilaine comenta que quer profissionalizar as gravações e torná-las uma alternativa de renda. Por terem o café como principal produto, a lavoura dá dinheiro apenas uma vez por ano."Quero continuar investindo na internet, porque dá uma renda boa, para os meninos construírem o futuro deles de forma mais fácil do que eu, porque, para mim, foi difícil", diz Robson.Veja também:'Café fake': saiba diferenciar café e pó sabor café na prateleira, para não errar nas comprasOvos vendidos sem rótulo vão precisar ter carimbo de validade na casca a partir de marçoJosé Marcos, Sofhya, Mizael e Benício fazem vídeos mostrando a vida no campo.Arquivo pessoalSabe como o cacau vira chocolate? Empresária mirim explica no VÍDEOSabe como o cacau vira chocolate? Empresária mirim explica