Com a crise migratória em sua fronteira com os Estados Unidos, o México vai passar a exigir visto de brasileiros que cheguem ao país como turistas. O documento de um anteprojeto nesse sentido foi publicado nesta quinta-feira pela Comissão de Melhora Regulatória (Conamer), órgão do governo mexicano.
A exigência será temporária, até que os fluxos migratórios estejam “seguros, ordenados e regulares”, diz o documento. O governo brasileiro já foi comunicado da decisão.
“A Secretaria de Relações Exteriores comunicou o governo da República Federativa do Brasil da decisão do Estado mexicano de suspender de maneira temporária o acordo para supressão de vistos em passaportes ordinários”, diz o texto. O acordo vigorava desde 2013.
O número de brasileiros que têm usado a fronteira com o México para entrar irregularmente nos Estados Unidos aumentou neste ano. Até o final de setembro, 47.484 cidadãos do país foram detidos pela patrulha de fronteira americana, segundo o Departamento de Segurança Interna dos EUA — um aumento de 400% em relação ao ano passado, quando 9.147 foram detidos no mesmo período.
A partir deste mês, os EUA passaram a enviar ao Brasil dois aviões por semana com brasileiros deportados, em vez de um.
Segundo o anteprojeto assinado pelo secretário de Governo mexicano, Adán Augusto López Hernández, a exigência de visto visa responder ao aumento “substancial” de brasileiros que entram no país para outra finalidade que não o turismo.
“Parte dessa situação se reflete nos fluxos migratórios, com a identificação de pessoas cujo perfil não se ajusta ao do turista genuíno e apresenta incoerências em sua documentação e informação, aumentando a possibilidade de que um número significativo de pessoas pretenda utilizar a supressão do visto indevidamente”, aponta o documento.
O governo mexicano pede que haja ações conjuntas dos dois países para possibilitar o uso “adequado” da supressão da necessidade de vistos. A medida passa a valer 15 dias após a publicação no Diário Oficial mexicano, o que ainda não ocorreu.
Vinícius Vieira, professor de Relações Internacionais da Faap, ressalta que há uma pressão do presidente dos EUA, Joe Biden, para conter a crise migratória, pela qual tem sido criticado internamente. Além disso, a redução do fluxo migratório diminuiria os custos com a segurança da fronteira e traria ganhos para o presidente do México, Andrés Manuel Lópes Obrador, um nacionalista de esquerda.
— Eles matam ali três coelhos de uma vez. A pressão americana é reduzida, assim como o custo financeiro de monitorar as fronteiras, sem falar nos benefícios políticos por sua repercussão no contexto mexicano — disse.
Segundo o professor, é esperado que o Brasil aplique o princípio da reciprocidade, exigindo vistos de mexicanos. Procurado, o Itamaraty ainda não respondeu se isso deverá ocorrer.
— Bolsonaro relativizou esse princípio ao abrir nossas fronteiras a turistas americanos, canadenses, australianos e japoneses sem que eles fizessem o mesmo. Será que vamos seguir a mesma lógica com os mexicanos, país com o qual temos um considerável fluxo de negócios? — disse Vieira.
— Eles matam ali três coelhos de uma vez. A pressão americana é reduzida, assim como o custo financeiro de monitorar as fronteiras, sem falar nos benefícios politicos por sua repercussão no contexto mexicano — disse.
Segundo o professor, é esperado que o Brasil aplique o princípio da reciprocidade, exigindo vistos de mexicanos. Procurado, o Itamaraty ainda não respondeu se isso deverá ocorrer.
— Bolsonaro relativizou esse princípio ao abrir nossas fronteiras a turistas americanos, canadenses, australianos e japoneses sem que eles fizessem o mesmo. Será que vamos seguir a mesma lógica com os mexicanos, país com o qual temos um considerável fluxo de negócios? — disse Vieira.
Fonte: O Globo