Uma reunião realizada ontem à noite na cidade baiana de Ibirapuã deu início aos entendimentos de empresários cearenses da agropecuária, apoiados pelo governo do Estado, com o sócio majoritário da Lacticínios Davaca, uma crescente indústria de lacticínios localizada no Sul da Bahia, bem perto da divisa com Minas Gerais, cujos produtos são comercializados pelas lojas das redes de supermercados de Fortaleza.
Objetivo explícito da reunião: convencer o dono da Davaca, o mineiro Lutz Viana, a instalar em Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza, uma planta industrial para o beneficiamento de leite e a fabricação de seus derivados, principalmente queijos e requeijões.
Por que em Maracanaú? Para aproveitar o galpão e as instalações da antiga e fechada fábrica de lacticínios da multinacional francesa Danone.
Estiveram presentes à reunião de ontem, além de Lutz Viana, o presidente do Sindicato da Indústria de Lacticínios do Ceará (SindLacticínios), José Antunes, e o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, que, para chegar a Ibirapuã, passaram quase toda a terça-feira, 18, em viagem.
De avião comercial, às 6 horas, deslocaram-se de Fortaleza para Salvador; de lá, também em voo comercial, foram para Porto Seguro, de onde, em uma caminhonete Hilux, percorreram 350 quilômetros até a sede da Lacticínios Davaca.
Em nome do governo cearense deveria ter estado presente, fisicamente, o secretário Executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), agrônomo Sílvio Carlos Ribeiro, que, com Covid, permaneceu em Fortaleza, sendo informado das tratativas pelo telefone.
Antes de viajarem para o encontro com Lutz Viana, o presidente da Faec e o presidente do SindLacticínios-Ceará tiveram o cuidado de reunir-se com Luiz Girão, fundador da Betânia Lácteos, maior empresa industrial de lacticínios do Ceará e do Nordeste, de cujo mercado é líder sem contestação.
Nessa “conversa entre amigos”, como disse José Antunes, o empresário Luíz Girão, com a franqueza que o caracteriza, estimulou a iniciativa, afirmando que atrair para cá a Davaca “é um esforço muito válido, e o Lutz será muito bem-vindo ao Ceará”.
Mas, em mensagem a esta coluna, Girão advertiu:
“Eu acho muito difícil o Lutz instalar a Davaca aqui. A Bahia dá à toda cadeia produtiva do leite uma condição que o Estado do Ceará não dá, e dificilmente dará: zero de cobrança de ICMS”.
A Betânia Lácteos tem duas fábricas na Bahia, as quais gozam desse atraente benefício.
Muito bem. Vamos, agora, por partes.
Primeira parte: se a Davaca decidir vir para o Ceará, sua fábrica de beneficiamento de leite e de produção de queijos não será em Maracanaú e muito menos aproveitando as instalações da antiga planta industrial da Danone.
“Lutz considera ultrapassados os equipamentos e as máquinas da Danone”, revelou Amílcar Silveira.
Segunda parte: Lutz virá ao Ceará no próximo mês de fevereiro. Visitará a bacia leiteira do Sertão Central, onde 90% dos produtores de leite são de pequeno porte, como os do Sul da Bahia.
Se decidir pela instalação de uma fábrica cearense, ela deverá ser localizada em Quixadá, Quixeramobim ou Senador Pompeu.
Terceira parte: hoje, em Ibirapuã, a Davaca processa 710 mil litros de leite, dos quais apenas 42 mil litros produzidos pelo rebanho próprio da empresa; o restante é fornecido pelos pequenos produtores dos municípios vizinhos.
Quarta parte: Amílcar Silveira informou que os produtores de leite da Bahia “estão muito satisfeitos com o governo baiano” (do PT), que isentou do ICMS todos os produtos lácteos.
Quinta parte: o Sertão cearense precisa, com urgência, de uma grande e moderna fábrica de queijos. Reparem: em Jaguaretama, operam 102 queijarias, das quais apenas cinco são certificadas, isto é, têm o selo da vigilância sanitária, como revela o presidente da Faec com o assentimento do presidente do SindLacticínios.
Como o governo do Estado do Ceará vê a iniciativa da liderança da agropecuária cearense em busca de novas indústrias de lácteos?
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Maia Júnior, que acompanha as negociações, disse à coluna que os incentivos fiscais oferecidos à cadeia do leite “são praticamente os mesmos que a Bahia oferece”.
Maia Júnior comentou que atrair uma organização do porte da Lacticínios Davaca para o Ceará é muto importante, “mas é preciso entender que não podemos causar prejuízo às empresas que já operam aqui, criando novos estímulos para novas empresas que chegam”.
Aguardemos os próximos capítulos.
Com informações Diário do Nordeste