Antes que a covid-19 entrasse de vez na vida dos baianos, Maria das Graças Pereira, 66, nem sabia direito o que era álcool 70%. Quando o produto passou a ser vendido em supermercados foi adotado pela dona de casa, que não deixa a família ficar sem o desinfetante. Porém, com o fim da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) e a revogação de uma resolução feita há dois anos, o álcool 70% líquido ficou proibido de ser comercializado em mercados e farmácias na última quarta-feira (16). No entanto, um dia depois da proibição, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) voltou atrás e liberou a venda pelos próximos 90 dias.
Pode ser que muitos nem se lembrem, mas antes da pandemia era quase impossível encontrar o produto exposto para a venda no país. Em 2002, devido ao grande números de acidentes que ocorriam com o álcool líquido 70%, a venda foi proibida pela Anvisa. A Agência passou a autorizar a comercialização em embalagens de até 1l em março de 2020, diante da necessidade de atender à demanda pelo produto, que é até hoje um aliado na prevenção da covid-19.
Foi justamente nesse período que Maria das Graças começou a fazer uso do produto para higienizar mãos e embalagens. "A gente limpava muito as mãos, tudo que entrava na cozinha a gente limpava, passava o álcool nas mesas e cadeiras", relata a dona de casa. Depois da vacinação e com a diminuição dos casos de covid-19 - que estão voltando a crescer -, Maria confessa que diminuiu o uso do produto, mas não totalmente.
Além de permitir que a venda fosse realizada de forma alargada, o governo federal também definiu procedimentos e critérios extraordinários que permitiam a fabricação de preparações antissépticas de álcool etílico 70% e álcool gel sem prévia autorização da agência reguladora, o que valeu até o dia 22 de maio deste ano. Na última quarta-feira (16), os produtos fabricados nessas condições foram proibidos de serem comercializados. Mas na última quinta(17), o órgão voltou atrás e autorizou a venda livre e a doação de álcool etílico na concentração de 70% na forma física líquida, desde que estejam devidamente regularizados na Anvisa.
"A medida, autorizada ad referendum, foi adotada de forma extraordinária diante do atual cenário sanitário da Covid-19 no Brasil. O objetivo é ampliar o acesso a produtos que contribuem na implementação de resposta coordenada para reduzir a transmissão e proteger a população em geral. A autorização terá validade de 90 dias", informa a Agência. A decisão destaca ainda que a Covid-19 tem demonstrado tendência a ter picos anuais de sazonalidade no Brasil, ao contrário de outras doenças respiratórias, como a influenza ou gripe, que aparecem com mais frequência no país apenas nos meses de inverno.
Um dia após a proibição, a reportagem foi até dois supermercados da Região Metropolitana de Salvador e encontrou o álcool 70% nas prateleiras. No Hiperideal, além de cinco marcas de álcool em gel - que ainda é permitido - havia unidades no formato líquido em embalagem de meio litro. Já no Big Bompreço, não foi encontrado álcool 70% líquido, mas funcionários informaram que estão aguardando mais unidades chegarem e não comentaram sobre a proibição.
"Não vende tanto como no início da pandemia, mas está em falta. deve chegar logo", afirmou um funcionário.
Os dois supermercados foram procurados, mas não comentaram sobre a proibição da venda do produto. Além deles, Assaí, Atakarejo, GBarbosa e Mercantil também foram procurados para informar se já deixaram de vender o álcool 70% líquido, mas não deram retorno. A Associação Baiana de Supermercados também não se pronunciou.