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ITANHÉM

O mito de Sísifo e a falta de médico no hospital de Itanhém

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A constante falta de médicos no plantão do Hospital Municipal de Itanhém me fez lembrar de "O mito de Sísifo", livro do consagrado escritor Albert Camus, que também foi filósofo e jornalista. Mas, inicialmente, vamos relatar o que ocorreu neste sábado (25), durante a apresentação, ao vivo, do programa Tribuna do Povo, da Rádio Master FM.

Mais de uma dezena de pessoas aguardava no hospital da cidade a chegada de uma médica que havia saído de Trancoso – distrito de Porto Seguro - um trajeto de quase 300 quilômetros. Pelos relatos, pacientes estavam precisando ser atendidos com urgência, alguns dos quais já tinham vindo no dia anterior à unidade de saúde e não encontraram atendimento.

Situação semelhante aconteceu na passagem do ano novo, o hospital ficou sem médico plantonista no dia 31 de dezembro e no dia 1º de janeiro. Enquanto isso, o secretário da Saúde, Joabe Pires, publicava fotos em suas redes sociais curtindo as praias de Porto Seguro.

Uma mulher, que estava no hospital com o filho adolescente com febre, dores pelo corpo e falta de ar, ligou para o meu programa, acreditando ser aquela a última tentativa de encontrar uma solução para o atendimento de seu filho e dos demais pacientes que aguardavam por um médico desde o dia anterior. Entre os que aguardavam havia, inclusive, outros dois adolescentes e uma senhora, que estava com crise aguda de diabetes, precisando urgentemente ser medicada.

Alertado pelos puxa-sacos de plantão, os quais não tinham nenhum parente em sofrimento no hospital, o secretário, do rádio de seu carro, ouviu a solicitação daquela senhora que ligara para o programa e, claro, ouviu também a minha crítica dura, como sempre, à falta de cuidado com a população itanheense. Despreparado politicamente, Joabe Pires, em vez de aproveitar aquele momento público no rádio, quando milhares de ouvintes estão atentos ao Tribuna do Povo e, de imediato, anunciar uma solução para aquele problema, resolveu me atacar, dizendo que "ficar daí batendo é fácil".

Ora, se como profissional da comunicação eu estava praticando a mais nobre ação do radiojornalismo, que é defender os interesses da coletividade, então eu estava ali na emissora fazendo, de forma responsável, o meu papel. O mesmo não se pode dizer do secretário da Saúde que, na sua inequívoca incompetência, não foi capaz, até o momento, de solucionar a falta de médico no hospital da cidade. E ainda chega ao absurdo de dizer que, se alguém da população conhecer algum médico que queira dar plantão em Itanhém, que informe a secretaria, numa outra demonstração inequívoca de sua incompetência, querendo transferir a sua responsabilidade para as pessoas do povo.

Não é segredo no município de Itanhém que Joabe Pires é ligado politicamente ao ex-prefeito, por dois mandatos, Milton Ferreira Guimarães, o Bentivi. Verdade ou não, pessoas ligadas à política local garantem que o secretário da Saúde, nomeado por Mildson Medeiros, pouco ou nada faz para reconhecer o nome do chefe do Executivo municipal, que é quem, na verdade, tem o prestígio junto ao governador para trazer os mutirões da saúde para Itanhém. Ultimamente, o que se tem visto na divulgação particular da realização de eventos da saúde, promovidos com recursos do Estado, é a ausência do prefeito. Já as aparições do secretário só não ganha do exagero de imagens de Kim Jong-un, líder supremo da Correia do Norte.

E "O mito de Sísifo", de Camus? Ele faz com que eu me indague sobre as questões filosóficas mais profundas da política da minha amada terra de Água Preta. Na atual gestão, a nomeação de pessoas sem verdadeiro compromisso com a saúde da nossa gente me permite fazer uma alusão ao mito de Sísifo, onde o herói dignifica sua jornada carregando uma pedra ao longo de uma montanha. Ao chegar ao topo, a pedra cai e Sísifo não hesita em carregá-la novamente. A emblemática cena repetida de quatro em quatro anos, quando a população mais pobre sempre acredita em um salvador da pátria, representa o momento em que Sísifo retorna para desenhar sempre uma nova esperança por melhoria na saúde, que nunca chega.

É preciso ainda imaginar Sísifo feliz, o herói absurdo de Albert Camus. A cena do herói mitológico grego carregando o seu fardo faz alusão ao eleitor itanheense, que dignifica a sua luta incansável por um dia ter o direito de chegar ao hospital de sua cidade e, no mínimo, encontrar um médico para acalmar suas dores ou restabelecer a respiração ofegante de um filho.

Se em quem se tanto acreditou, já passados mais de dois anos, não dá ao povo um sentido do verdadeiro exercício da política, no mínimo, nomeando um secretário da Saúde que goste de gente e que tenha dó do sofrimento alheio, não nos restará outra opção senão buscar novos ares. Afinal, como Sísifo, temos que encarar a vida com coragem e determinação e, quando necessário, fazer sempre novas escolhas, ainda que estejamos sujeitos a errar novamente, como erramos em acreditar que Zulma Pinheiro seria a mãe da saúde.

Água Preta News

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