No dia anterior, a moeda norte-americana caiu 0,31%, cotada a R$ 5,7672. Já o principal índice acionário da bolsa de valores brasileira encerrou em alta de 0,76%, aos 126.522 pontos. Dólar
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O dólar opera em leve baixa nesta quarta-feira (12), com investidores na expectativa pela divulgação de novos dados de inflação nos Estados Unidos, que podem trazer mais pistas sobre a condução da política monetária no país.
O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) interrompeu seu ciclo de redução das taxas de juros porque a inflação americana voltou a acelerar e está acima da meta da instituição.
Além disso, com a política de tarifação do presidente Donald Trump, há uma expectativa de que os produtos dentro dos EUA, que chegam boa parte do exterior ou são feitos com matéria-prima importada, fiquem mais caros, contribuindo para uma alta mais expressiva da inflação. Isso poderia levar o Fed a promover novas altas nas taxas nos próximos meses.
Então, os dados de inflação são observado com atenção pelos investidores, que querem pistas sobre o que deve acontecer com os juros na maior economia do mundo: se podem voltar a cair, se devem continuar no atual patamar por um tempo ou se há chances de novas altas.
No Brasil, o destaque fica com dados do setor de serviços. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o volume de serviços prestados no país teve uma queda de 0,5% em dezembro de 2024, no segundo resultado negativo consecutivo, acumulando perda de 1,9% nos dois últimos meses do ano. No acumulado do ano, porém, o setor teve alta de 3,1%.
Veja abaixo o resumo dos mercados.
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Dólar
Às 09h50, o dólar caía 0,09%, cotado a R$ 5,7622. Veja mais cotações.
No dia anterior, a moeda americana teve baixa de 0,31%, cotada a R$ 5,7672.
Com o resultado, acumulou:
queda de 0,45% na semana;
recuo de 1,20% no mês; e
perdas de 6,68% no ano.
a
Ibovespa
O Ibovespa começa a operar às 10h.
Na véspera, o índice teve alta de 0,76%, aos 126.522 pontos.
Com o resultado, acumulou:
alta de 1,53% na semana;
avanço de 0,31% no mês;
ganho de 5,19% no ano.
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O que está mexendo com os mercados?
No cenário interno, o destaque desta quarta fica com o setor de serviços, que registrou a segunda queda consecutiva em dezembro do ano passado, apesar de uma alta no ano.
Segundo Rafael Perez, economista da Suno Research, o avanço do volume de serviços prestados no ano passado tem relação com "as condições mais favoráveis para a renda e o consumo das famílias com o mercado de trabalho aquecido, além do avanço de atividades empresariais".
"Contudo, nos últimos meses, observamos sinais de desaceleração do setor, que começa a sentir os dados mais fracos de mercado de trabalho, confiança do consumidor e a perda de tração da economia brasileira", explica o economista.
Perez acredita que, em 2025, os serviços devem ser mais impactados pelo ciclo de altas na Selic, taxa básica de juros, que hoje está em 13,25% ao ano, mas com perspectivas de chegar ao patamar dos 15% ao ano nos próximos meses. Juros elevados encarecem a tomada de crédito pela população e, por isso, tendem a reduzir a demanda por bens e serviços no país.
Além disso, o ano deve ser marcado por um menor nível de estímulos fiscais por parte do governo, tornando o cenário para o consumo das famílias menos favorável.
Nesta terça-feira (11), o IBGE também divulgou o IPCA, considerado a inflação oficial do país, subiu 0,16% no mês passado, na menor taxa para o mês desde o Plano Real. Nos últimos 12 meses, a inflação brasileira acumulou uma alta de 4,56%, também uma desaceleração em comparação com dezembro do ano passado, quando o IPCA acumulava uma alta de 4,83%.
A inflação de janeiro ficou em linha com as expectativas do mercado financeiro. A mediana das projeções de analistas consultados pela Bloomberg era de uma alta de 0,17%. O avanço veio mais uma vez puxado pelos grupos de Transportes e de Alimentação e bebidas, que registraram as maiores altas percentuais no período.
A desaceleração do setor de serviços deve contribuir para uma redução mais expressiva da inflação, principalmente a partir do segundo semestre, segundo especialistas.
Além disso, as novas tarifas anunciadas por Trump também impactaram os mercados, conforme investidores tentavam avaliar eventuais impactos das taxas no país.
Na véspera, o presidente norte-americano assinou um decreto que impõe tarifas de 25% para todas as importações de aço e alumínio para o país a partir de 4 de março.
A medida, que pode atingir em cheio o setor de siderurgia de países como México, Canadá e Brasil, faz parte de uma das principais promessas de campanha de Trump: a taxação de produtos estrangeiros para priorizar a indústria norte-americana.
"Nossa nação precisa que o aço e o alumínio permaneçam na América, não em terras estrangeiras. Precisamos criar para proteger o futuro ressurgimento da manufatura e produção dos EUA, algo que não se vê há muitas décadas", disse Trump.
"Este é o primeiro de muitos. E você sabe o que quero dizer com isso? Outros assuntos, tópicos, proteger nossas indústrias de aço e alumínio é essencial. Simplificando: nossas tarifas sobre aço e alumínio, para que todos possam entender exatamente o que é: 25%, sem exceções. E isso vale para todos os países, não importa de onde venha."
As tarifas de Trump geram um clima de incertezas e cautela por todo o mundo por dois principais motivos: os impactos comerciais e econômicos para os exportadores e a pressão sobre os preços dentro dos EUA — que pode se estender por todo o mundo.
Diante da preocupação, autoridades de diversos países se posicionaram.
Na Coreia do Sul, o Ministério da Indústria convocou siderúrgicas para discutir como minimizar os impactos das tarifas para as empresas. Já na Europa, a Comissão Europeia afirmou "não ver justificativa" para a tarifação e assegurou que vai reagir.
O ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, afirmou que a Europa "pode e deve reagir unida e decisivamente contra as restrições tarifárias unilaterais" e destacou que a região "está preparada para isso".
No Brasil, a postura do governo foi mais cautelosa diante das ameaças do presidente dos EUA. Tanto o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, quanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, manifestaram a necessidade de diálogo em relação às tarifas.
Segundo o blog da Ana Flor, o anúncio não pegou o governo de surpresa e, por enquanto, a orientação é não responder imediatamente com a regra da reciprocidade, mas primeiro analisar o impacto.
Além de afetar as empresas exportadoras de aço e alumínio, que podem ter uma queda nas vendas, há preocupação no mercado sobre a pressão inflacionária que a implementação dessas tarifas causaria na maior economia do mundo, o que pode atrasar a redução dos juros no país.
Dirigentes do Fed afirmaram que a instituição não tem pressa em reduzir os juros e que observará atentamente os desdobramentos do cenário político e econômico. Atualmente, os juros americanos estão entre 4,25% e 4,50% ao ano, com o objetivo de reduzir a inflação anual, que está em 2,9%, para a meta de 2%.
Juros elevados também aumentam o rendimento dos títulos públicos dos EUA, considerados os mais seguros do mundo, o que tende a provocar uma migração de capital estrangeiro para o país e pode fortalecer o dólar em relação a outras moedas.
Dólar mais caro também impacta a inflação em todo o mundo, já que esta é a principal moeda para as negociações comerciais e pode pressionar os preços principalmente das commodities, como combustíveis e alimentos.
Fonte: g1