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Drone acelera reflorestamento na Bahia; Usinas Santa Cruz e Santa Maria são parceiras desta ação

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Em uma tarde quente no sul da Bahia, o agricultor familiar Crispin Barbosa de Jesus embrenha-se na mata próxima à casa onde mora. Basta alguns poucos metros de caminhada para a temperatura diminuir e o ar ficar mais úmido. Sorrindo, nomeia as árvores com a precisão de um botânico - conhecimento adquirid Em uma tarde quente no sul da Bahia, o agricultor familiar Crispin Barbosa de Jesus embrenha-se na mata próxima à casa onde mora. Basta alguns poucos metros de caminhada para a temperatura diminuir e o ar ficar mais úmido. Sorrindo, nomeia as árvores com a precisão de um botânico - conhecimento adquirido ao longo de mais de 30 anos na região da paradisíaca Porto Seguro. o ao longo de mais de 30 anos na região da paradisíaca Porto Seguro.

Drone da Morfo em ação no sul da Bahia: um equipamento é capaz de cobrir uma área de 50 hectares em um intervalo de dia, mesmo em terrenos íngremes — Foto: Divulgação
Drone da Morfo em ação no sul da Bahia: um equipamento é capaz de cobrir uma área de 50 hectares em um intervalo de dia, mesmo em terrenos íngremes — Foto: Divulgação

Crispin abre um fruto e mostra sementes de um azul metalizado que mais parecem pedras preciosas. "É o Diamante Azul", diz o produtor. O nome popular da Margaritaria nobilis batiza o negócio de coleta de sementes de espécies nativas. Ele fornece ao Grupo Ambiental Natureza Bela, organização da sociedade civil (OSV) que trabalha com o reflorestamento na região. A atividade deve tomar mais tempo de Crispin, já que a Natureza Bela se aliou à startup francesa Morfo para acelerar os processos de restauração usando drones.

Estima-se que uma equipe de dez pessoas planta até um hectare de floresta por dia no método tradicional, em que o preparo da terra, a distribuição das mudas e a aplicação de um gel para conservar a umidade do solo são todos manuais. Um drone é capaz de cobrir 50 hectares em um dia, mesmo em terrenos íngremes. Além disso, os equipamentos podem operar de forma autônoma a partir de mapas inteligentes com recomendações agronômicas personalizadas para cada área.

"Queremos ajudar essas organizações a fazerem mais em menos tempo", disse ao Valor ´o CEO da Morfo no Brasil, Gregory Maitre, reforçando que parte do plantio ainda será realizado de forma manual por trabalhadores das organizações, para não prejudicar os empregos e a renda dessas comunidades locais´.

A startup trabalha com a regeneração de áreas degradadas pela atividade agrícola ou mineradora. No caso do agronegócio, a empresa aceita terras improdutivas desmatadas há mais de dez anos. "Não queremos servir de álibi para o desmatamento", frisou o CEO.

Os projetos não têm custo para os agricultores, nem para as organizações parceiras. A Morfo se financia com a pré-venda de parte dos créditos de carbono que serão gerados pelas florestas plantadas - o dono da terra também recebe parte dessa remuneração. "Conforme calculamos o sequestro de carbono, vendemos o restante dos créditos e distribuímos aos parceiros", explicou Pascal Asselin, co-fundador da startup.

José Francisco Júnior, que é sócio-fundador da Natureza Bela, afirmou que o investimento necessário para restauração de áreas degradadas ainda é proibitivo para alguns produtores. Segundo ele, o custo chega a R$ 30 mil por hectare. "Mas todo solo é recuperável, Israel é a prova", reforçou.

A organização fez a ponte entre a Morfo e a Usina Santa Cruz, do Grupo São Luiz, que cedeu 14 hectares para uma experiência. É um pedaço de terra improdutiva que foi exaurido pela pecuária antes mesmo de a fazenda ser comprada por um fornecedor de cana do grupo. Os engenheiros envolvidos no projeto trabalham para vencer a braquiária, que impede o crescimento da mata nativa, e estabelecer um protocolo eficiente a ser aplicado em mais 41 hectares da propriedade.

´´Queremos ajudar essas organizações a fazerem mais em menos tempo" - disse, Gregory Maitre.

A ideia é não usar herbicidas, e sim outras espécies de plantas que vão competir com a braquiária por espaço e impedir que ela cresça. "São espécies que também ajudam a regenerar e enriquecer o solo, para depois cultivarmos as árvores maiores", explicou o gerente de projetos de reflorestamento da Morfo, Yan Marron e Mota.

De acordo com o especialista, há um estudo criterioso das espécies a serem cultivadas que leva mais tempo que o plantio em si. "Temos um banco com mais de 50 espécies, mas usamos aqueles que são mais comuns na área, até para não desequilibrar o ecossistema´´, contou.

Hugo Asselin, também co-fundador, fez questão de pilotar o drone da Morfo durante o experimento. De chapéu e óculos escuros, o francês observava as cápsulas pequeninas com uma mistura de sementes e nutrientes caírem sobre a terra. "Em seis meses, estaremos usando pilotos brasileiros, e estudamos usar drones maiores e elétricos", comentou. Devido à dificuldade de recarregar aparelhos elétricos em áreas afastadas, a empresa trabalha atualmente com um equipamento à gasolina.

A Morpho, que empresta seu nome à startup, é uma borboleta azul presente nas florestas tropicais da América do Sul. É símbolo de esperança e renovação, e combina com uma mudança de mentalidade econômica, segundo o gerente de relações institucionais da Usina Santa Maria, do Grupo São Luiz, Marcos Lemos. "A preservação e as questões ambientais já foram tidas como adversárias do agronegócio, e não é verdade. Todas as grandes empresas são aliadas dessa causa", afirma.

O grupo tem cerca de 35 mil hectares plantados com cana-de-açúcar para produção de etanol. Segundo Lemos, os fornecedores possuem juntos dois mil hectares passíveis de restauração apenas em áreas de preservação permanente. "E estamos trabalhando em uma planilha que mostre quando é economicamente viável transformar áreas com baixa produtividade em florestas", contou.

Cuidar do ambiente também é imprescindível para garantir a continuidade da produção agrícola, frisou Lemos. "Se foi aqui na Bahia que começou a história do Brasil, é aqui que também vamos renová-la, retomando a conexão plena entre o homem, a agricultura e a natureza", disse.

Fonte: Valor Econômico

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