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ECONOMIA

Após China revidar tarifas dos EUA, há como evitar uma guerra comercial?

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O direcionamento calculado e seletivo de Pequim para os produtos americanos pode ser um movimento de abertura antes das negociações Donald Trump e Xi Jinping durante encontro em 2019

Reuters via BBC

Pequim tomou sua decisão. Depois de passar dias alertando sobre medidas retaliatórias e conclamando Washington a iniciar negociações para "chegar a um meio-termo com a China", o governo chinês decidiu retaliar — ou pelo menos ameaçar — com suas próprias tarifas de importação.

A China declarou que irá implementar uma tarifa de 15% sobre o carvão e produtos de gás natural liquefeito, além de 10% sobre o petróleo bruto, máquinas agrícolas, caminhonetes e alguns carros de luxo importados dos Estados Unidos a partir de 10 de fevereiro.

Esta data é importante. Ela significa que as duas maiores economias do mundo têm pouco tempo para evitar uma guerra comercial iminente.

Os líderes dos dois países agendaram uma ligação para o final desta semana, segundo a Casa Branca.

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E existem sinais de que, apesar do anúncio da retaliação, a China mantém a porta aberta para negociações.

Em primeiro lugar, as medidas de retaliação da China apresentam escopo limitado, em comparação com a tarifa de Donald Trump, de 10% sobre todos os produtos chineses destinados aos Estados Unidos.

Os EUA são o maior exportador mundial de gás natural líquido, mas a China representa apenas cerca de 2,3% dessas exportações. E a maior parte dos carros importados pelo país vem da Europa e do Japão.

Este direcionamento seletivo e calculado de mercadorias pode ser apenas um tiro inicial de Pequim — uma forma de obter algum poder de barganha e influência, antes de qualquer negociação.

As autoridades chinesas podem ter sido encorajadas pelo início cordial das relações entre os Estados Unidos e a China, desde a posse de Donald Trump.

O presidente americano declarou que manteve uma ligação telefônica "muito boa" com o presidente chinês Xi Jinping, dias antes da posse.

A cerimônia de posse contou com a presença da autoridade chinesa de mais alto nível já destacada para um evento deste tipo.

Trump também indicou que espera trabalhar com Xi para solucionar a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Já o presidente Xi talvez não deseje brigar com Trump por enquanto. Ele está ocupado tentando resolver as dificuldades da sua própria economia.

Esta também é uma questão familiar para os dois líderes, embora eles talvez não estejam dispostos a reviver o passado. Durante o primeiro mandato de Trump, houve um período de lua de mel nas relações entre os Estados Unidos e a China, até que o relacionamento azedou.

Caminhonetes e carros de luxo estão entre os produtos importados dos Estados Unidos a serem taxados pela China,

Reuters via BBC

Fechar ou não um acordo

O presidente Trump também irá enfrentar muito mais dificuldades para chegar a um acordo com a China, em comparação com o México e o Canadá. E muito irá depender do que ele deseja receber de Pequim.

A China é o principal rival econômico dos Estados Unidos. Eliminar o país asiático das principais cadeias de suprimentos é um dos objetivos do governo Trump.

Se o presidente americano pedir demais, Xi pode decidir se retirar das negociações. E haverá um limite até onde ele estará disposto a ser pressionado.

Trump está lidando com uma China muito mais confiante do que no passado. Pequim ampliou sua influência global e, agora, é o principal parceiro comercial de mais de 120 países.

Ao longo das últimas duas décadas, a China também tentou reduzir progressivamente a importância do comércio exterior para sua economia, elevando a produção para consumo doméstico.

Atualmente, as importações e exportações representam cerca de 37% do PIB chinês, muito menos do que os 60% no início dos anos 2000, segundo o centro de pesquisa e debates Council on Foreign Relations, com sede em Nova York.

A tarifa de 10% será prejudicial, mas Pequim pode perceber que irá conseguir absorver o golpe — por enquanto.

O receio é de que Trump esteja falando sério sobre elevar a alíquota para 60%, como ele prometeu durante a campanha presidencial. Ou que ele continue usando a ameaça das tarifas como instrumento recorrente sobre a cabeça do presidente Xi.

Se isso acontecer, Pequim irá querer se preparar — e isso significa ter uma estratégia clara para o caso de escalada da situação.

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Aprendendo com o passado

Na última vez em que os dois líderes assinaram um acordo, não houve bons resultados.

A China e os Estados Unidos concordaram em igualar suas tarifas de importação para centenas de bilhões de dólares em mercadorias, a partir de 2018.

O acordo durou mais de dois anos, até o momento em que a China concordou em gastar mais US$ 200 bilhões (cerca de R$ 1,15 trilhão) por ano em mercadorias americanas em 2020.

Washington esperava que o acordo reduzisse o imenso déficit comercial existente entre a China e os Estados Unidos. Mas o plano foi prejudicado pela pandemia de covid-19.

O déficit, agora, é de US$ 361 bilhões (cerca de R$ 2,1 trilhões), segundo dados do governo chinês.

Existem também importantes dificuldades para a China, que calcula vários passos à frente em qualquer negociação.

Pequim ainda exporta para os Estados Unidos cerca de quatro vezes mais do que importa.

Os analistas acreditam que a China, agora, busca maior variedade de medidas de retaliação, além simplesmente das tarifas de importação, caso a guerra comercial se agrave.

O tempo está passando. Esta ainda não é uma guerra comercial em larga escala.

Empresas de todo o mundo irão aguardar para ver se os dois líderes conseguem firmar algum tipo de acordo, ainda esta semana.

g1

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